Era o início do advento e na casa
rica, de uma família abastada, erguia-se, luxuoso, um presépio. Eram seis
simples figuras com um banho de prata, brilhantes e luzentes, como que acabadas
de sair da montra de uma ourivesaria. Em redor da casa, que se situava num
condomínio da alta burguesia, não havia nem pobres nem mendigos nem crianças.
E, por isso, nada perturbava os visitantes da família rica, que recebia os seus
convidados sempre com a alegria natalícia
de que bastava um jantar para celebrar esta quadra festiva.
Mas, naquele início de advento,
algo inusitado aconteceu.
Era a noite do primeiro domingo
antes do natal, quando, inesperadamente, se ouviram gargalhadas, risos,
correrias de crianças, junto à porta da casa da família rica. Incomodado,
receando que isso perturbasse os seus convidados, o dono da casa abriu a porta
da rua e mandou sossegar as crianças, e elevando ainda mais a voz perguntou:
- Quem sois? De onde vindes? Que
fazeis aqui?
Do grupo de seis crianças, duas
responderam:
- Eu sou a Beatriz.
- Eu sou o Viriato.
E uma outra disse também:
- Trazemos três romãs para oferecer
a quem nos der de comer…
- Ide embora! Desaparecei daqui! –
Exclamou irritado o dono da casa e com estrondo fechou a porta da rua.
Fez-se silêncio. As seis crianças,
entristecidas, olharam umas para as outras e, nesse olhar havia o espanto mudo
e quieto de quem percebia que não era bem recebido; e a aventura de natal das
crianças podia ter terminado aqui.
Mas não foi isso o que sucedeu.
Quando se preparavam para se irem
embora, uma velha senhora surgiu e acenou-lhes com a mão como se nesse gesto
lhes pedisse alguma coisa.
- O que quer? – Perguntou uma das
crianças.
- Eu quero as vossas romãs.
Dão-mas? – Respondeu a velha senhora.
- E o que nos dá em troca? – Quis
saber outra das crianças.
- Tenho uma história que sei
contar. – Disse a velha senhora. – Querem ouvi-la, em troca das romãs?
As seis crianças alegraram-se de
novo. Doces, em troca das três romãs, era o que esperavam receber; mas uma
história parecia-lhes, agora, uma troca excelente. Entregaram as romãs à velha
senhora, que as descascou, enquanto caminhavam, e lhes ia oferecendo os bagos
vermelhos para que comessem .
- Venham. Sentamo-nos num banco
iluminado do jardim e eu conto-vos a história.
E começou: - Há muitos anos atrás,
um casal com um filho recém-nascido pernoitava num estábulo. E, de muito longe,
vieram três reis com uma oferta magnífica. Cada um deles tinha uma romã para
oferecer à criança que acabara de nascer…
- Assim como nós! – Exclamou uma
das crianças.
- Exatamente como vocês. –
Confirmou a velha senhora e muito séria acrescentou – vocês os seis são como
que um presépio vivo: a mãe e o pai e o filho e os três reis do oriente –
crianças para sempre.
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