Os Três Reis do Oriente

 


 

No Centro Comercial, as decorações de natal abrilhantam de luz e de cor os corredores e as praças, habitualmente despidos de ornamentos e, por isso, habitualmente mais incaracterísticos. Também as lojas se adornam festivamente, sendo que cada uma delas expressa de um modo particular esta quadra de alegria. Grandes estrelas, azevinho, luzes, árvores de natal podem ser encontrados por todo o lado das galerias, num espetáculo de luxo e de brilho, como só nesta época do ano é possível ver. Por isso, não é de estranhar que, numa das centenas de lojas, na montra, estejam presentes os três reis magos, ricamente vestidos, e transportando, cada um deles, a oferenda particular com que presentearam Jesus. E é, justamente, nesta loja, a loja dos três reis magos, que se passa a história que vou contar…

Num destes dias de natal, na azáfama das compras, Safira entrou na única loja de antiquário que existia no Centro Comercial. Procurava uma travessa da companhia das Índias para compor um centro de mesa em sua casa. No interior da loja, não havia mais ninguém e o lojista, aparentemente ocupado com registos num grande dossiê de capa preta, ignorou a sua entrada. Safira foi percorrendo a loja, não muito grande, mas atravancada de muitas peças de mobiliário antigo, sobretudo, mesas, cómodas, armários e cadeiras, e sobre as quais objetos de ornamentação, como porcelanas ou vidros, se encontravam dispostos de uma forma aparentemente aleatória. Não encontrando o que procurava, Safira resolveu dirigir-se ao dono da loja, que entretanto fechara o dossiê e parecia agora atento à cliente que estava ali.

- Bom dia, - saudou Safira. – Procuro uma travessa da companhia das Índias. Por acaso, tem alguma?

- Uma oferta de natal? – Perguntou, desinteressadamente, o lojista.

- Uma oferta para mim mesma. – Respondeu Safira, com um sorriso. – O melhor presente deve ser para nós mesmos.

- Não pensaram assim Gaspar, Belchior e Baltasar… - Disse assertivamente o homem, contrapondo e acrescentou com um gesto que abrangia todo o espaço. – De qualquer forma, tenho tudo vendido. Recebi agora mesmo uma proposta de liquidação da totalidade do recheio da loja. Um único comprador! Apenas não vendi os três reis magos da montra! Está interessada em ouro, incenso e mirra?! Ofereço-lhos.

Safira, por momentos, perante o inusitado, não soube o que dizer; mas, de súbito, ocorreu-lhe que o homem estaria a falar a sério. Respondeu, então, que sim. E, conforme recebia nas suas mãos os três presentes, percebeu que, de facto, não eram a si que se destinavam. Ela tinha agora a extraordinária missão de entregar o maior presente da sua vida a alguém. Para quem?, perguntou ao lojista.

- Para todo Aquele que ame o próximo como a si mesmo. – Respondeu o lojista e acrescentou simplesmente – Vá pelas ruas… procure um casebre… saia daqui e sonde a cidade para além destes limites da ostentação… há de encontrar, se no seu Coração houver esse desejo e se, ao mesmo tempo, o seu Coração estiver despido de desejo: que seja o seu Coração a luz que aponta o direito caminho que conduz a um outro Coração iluminado. 

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